Vou contar o que eu nunca vi
Pro sertão e pra cidade:
Nunca vi guerra sem tiro
E nem cadeia sem grade,
Nunca vi um prisioneiro
Que não queira liberdade,
Nunca vi mãe amorosa
Do filho não ter saudade.
Nunca vi homem pequeno
Que ele não fosse papudo,
Eu nunca vi um doutor
Fazer falar quem é mudo,
Nunca vi um boiadeiro
Carregar dinheiro miúdo,
Nunca vi homem direito
Vestir calça de veludo.
Eu nunca vi um carioca
Que não fosse bom sambista,
Nunca vi um pernambucano
Que não fosse bom passista,
Nunca vi um paraibano
Que não fosse repentista,
Nunca vi um violeiro
Que não fizesse conquista.
Nunca vi um paulistano
Da vida se maldizendo,
Nunca vi um paranaense
Que não esteja enriquecendo,
Eu nunca vi um baiano
No facão sair perdendo,
Eu nunca vi um mineiro
Da luta sair correndo.
Nunca vi um catarinense
Depois de velho aprendendo,
Nunca vi um mato-grossense
De medo andar tremendo,
Eu nunca vi um gaúcho
Pra laçar precisar treino,
Eu nunca vi um goiano
Por paixão beber veneno.
Nunca vi um fazendeiro
Andar em cavalo que manca,
Pra fechar boca de sogra
Não de chave, não de tranca,
Pra terminar meu pagode
Vou falar botando banca,
Quero ver meus inimigos
Levantar bandeira branca.